ESQUEÇA DE ESQUECER... QUE VOCÊ ESQUECE
Sempre tem aquele momento clássico, quando suas amigas não aguentam mais você falando do assunto proibido, mas que é seu preferido. Elas querem arrancar os cabelos, gritar, se jogar no chão suplicando: para de falar do seu ex e do seu término pelo amor de Deus.
Ao invés disso, são moças finas que fazem a cara de tédio mais uma vez e dizem: você precisa esquecer que ele existe.
Você é fina também, mas além de fina é mentirosa. E responde: mas é só o que eu quero! No fundo, bem no fundo, talvez nem tanto no fundo, você tem uma ponta de esperança, uma força do mal que diz “mas se ele esquecer a história vai acabar, mas a história não vai acabar, mas e se ele for o príncipe e não o Darth Vader, mas e se um milagre acontecer, mas e se anos se passarem e vocês se encontrarem no shopping solteiros, magros, bonitos, sorrirem, se perdoarem. Mas e se…
Você mente que quer esquecer, mas na verdade você acha que quer esquecer. As vezes. Você só fala em esquecer. Você ouve musicas sobre esquecer, você paga 300 reais em 50 minutos de análise e ignora as culpas dos seus pais, porque quer falar sobre o dia em que esquecer.
Mas se tiver sorte, todas as suas amigas terão náuseas ao ouvir mais uma vez essa história e seus amigos gays vão estar bêbados demais pra falar de amor. Sua família vai ter tanta pena da sua vida amorosa, que você se sentirá constrangida ao falar daquele cara que sua avó conheceu e pergunta até hoje, com um suspiro por você ser solteira, afinal, antes mal acompanhada do que só.
Se for esperta vai dormir. Dormir, dormir, dormir, aprender a fazer supermercado sozinha, ir ao cinema sozinha, ficar em silêncio sozinha, até estranhar fazer as coisas acompanhada.
Vai demorar, mas um dia vai ouvir todas as músicas que colocou naquela playlist sem lembrar dele em nenhum momento. Vai passar naquele quarteirão sem precisar fechar os olhos porque é onde ele trabalha. E talvez até o encontre sem querer em um restaurante. Suas amigas vão ficar surtadas, achando que você vai desmaiar ou esfaquear alguém, mas você será a última a perceber a presença dele ali.
E numa situação qualquer, enquanto faz as unhas no salão ou atravessa a rua, uma hora seu coração vai disparar. Uma sensação de possível morte ou possível adolescência tardia vai rolar. Você começará a sorrir tanto que até o taxista vai achar que é pra ele. Mas é que você não consegue mais esconder a felicidade.
O rosto vai arder, porque você pensa nele. Um outro ele. Qualquer outro ele que apareceu do nada. E pode durar uma semana ou os próximos três anos. Mas não importa.
Porque você percebe que se não tivesse vivido tudo aquilo, jamais teria conhecido esse novo menino. E dá graças a Deus por aquele lá ter terminado com você, porque era bem esse que você queria conhecer, segundo a nova versão de você mesma. E aí se lembra que esqueceu aquele que queria esquecer.
E acha que esquecer é tão fácil que não vê a hora de viver tudo de novo. Porque agora você tem certeza que tira de letra.